Por que estamos remando contra a corrente?

A maioria de nós, que estivemos envolvidos com o ativismo pelos direitos animais há mais tempo, estamos mais ou menos familiarizados com todas as pessoas famosas que têm sido citadas pelas suas opiniões sobre os direitos animais. Mesmo que Winston Churchill não seja uma dessas pessoas famosas, há uma frase que é creditada a ele que poderia ser interpretada como uma verdadeira amostra do sentimento daqueles envolvidos com a defesa dos direitos animais. Winston Churchill disse: “Os homens às vezes tropeçam na verdade, mas na maioria das vezes se levantam e saem apressadamente como se nada tivesse acontecido.”

O que torna essa frase tão significativa para o movimento dos direitos dos animais é que ela descreve sucintamente a muralha que muitos de nós enfrentamos quando tentamos informar nossos amigos, colegas de trabalho e familiares queridos.

Quantas vezes ouvimos “Eu gosto de animais” partindo de uma pessoa que tem várias peças de peles e couro no guarda-roupa, dona de um cachorro de raça comprado em loja de animais, e ainda por cima comendo um cachorro-quente ? Muitas pessoas decentes, pessoas que nós conhecemos, nunca teriam idéia de maltratar deliberadamente ou colocar um animal em perigo. Mas mesmo assim, elas não acham nada de errado em ir a um circo, comprar um animal de uma loja de animais e, claro, comer um Big Mac.

Nós temos feito campanhas, anúncios, usado camisetas com slogans e temos exibido fotos, filmes e livros sobre a crueldade contra os animais. Mas mesmo assim, por incrível que pareça, eles ainda comem carne, ainda vestem couro, ainda bebem leite e ainda freqüentam eventos de exploração de animais. Essas pessoas não são monstros. Elas viram a verdade e de alguma maneira foram capazes de “sair apressadamente como se nada tivesse acontecido”.

O que nos torna diferente deles ? Como é que podemos assistir uma filmagem de um abatedouro e jurar que nunca mais comeremos carne enquanto alguém que estimamos pode assistir o mesmo vídeo sem nenhuma conseqüência ? Quantos de nós temos visto as cadelas de ninhada nas “fábricas de cãezinhos” e a imundície onde elas vivem, e sofrido com isso enquanto outros parecem não ser afetados? Agora que sabemos, sem dúvida nenhuma, como os elefantes de circo são tratados, por quê é que nós não conseguimos nos divertir nos circos enquanto outros ficam indiferentes à crueldade?

Aquilo que é aprendido não pode ser esquecido. Será que as pessoas não envolvidas com os direitos dos animais, os “outros” é que escolhem não aprender ? Eu tenho uma amiga que é enfermeira e trabalha em uma clínica ginecológica. Ela é uma boa pessoa, resgata animais abandonados, não veste couro, gosta de cães e gatos de todos os tamanhos e raças e jamais maltrataria um animal.

Um outro dia eu disse à ela que estava ajudando em uma campanha contra o Premarin, uma droga que repõe o estrogênio usada por muitas mulheres nos EUA para aliviar os sintomas após a menopausa. O Premarin é produzido à partir da urina das éguas grávidas, que são acorrentadas e presas a um equipamento que recolhe a urina durante toda o período de gestação sem que sejam permitidas se deitar e andar, entre outras várias condições cruéis. Há outros substitutos para o estrogênio que têm o mesmo efeito e, sendo extraídos da soja e da batata doce mexicana ou sintetizados em laboratório, tornam totalmente dispensável a exploração dos animais.

Eu estava tirando fotos de todos os meus amigos com um cartaz famoso da PETA dizendo “Eu não vou usar Premarin !” e enviando as fotos para a Wyeth-Ayrst Laboratories, “fabricante” do Premarin. Ela na mesma hora falou “Ah, não me conte nada ! Eu tomo Premarin e não quero saber! “Últimas palavras famosas: “eu não quero saber” … Claro que não quer saber. Eu também não quero saber. Mas eu procuro saber, e agora que eu sei, não posso voltar atrás e deixar de saber. A ignorância é uma benção.

O filho dessa amiga, já maior de idade, é um ativista pelos direitos dos animais e eu pedi ajuda a ele. Eu entreguei os materiais para que ele desse à sua mãe e pedi que ele se certificasse de que ela leria. Como ela poderia ignorar o próprio filho? Bem, ela não apenas parou de tomar Premarin, mas conseguiu que o médico dela parasse de prescrever Premarin para seus outros pacientes também.

Se eu tivesse apenas respeitado seu desejo de “não saber”, ela e todos os outros pacientes continuariam a consumir Premarin, e as éguas continuariam a sofrer por isso.

A maioria de nós não tenta ir tão longe para ensinar a um amigo algo que ele não quer aprender porque não queremos arriscar perdermos a amizade. De fato, vários de nós tivemos amigos e os perdemos por causa das questões que tentamos discutir mas não podemos porque “eles não querem saber”. E como podemos lutar contra a indústria do leite e derivados quando eles já convenceram o público de que nós “temos” que tomar leite para sobreviver? Quando lemos a literatura sobre o leite e os hormônios de crescimento bovino, sabemos como o consumo do leite contribui para o cruel mercado da carne de vitela, e os argumentos fazem sentido para nós, mas mesmo assim quando tentamos passar a informação adiante, descobrimos estar lutando contra uma crença tão arraigada que é até considerado loucura pensar o contrário.

A vaquinha Risoleta vive feliz ! Claro, olhe o sorriso dela na embalagem! O motivo pelo qual as pessoas são lentas em aceitar a filosofia dos direitos dos animais é porque isso significa que elas terão que mudar e isso as deixa desconfortáveis. Nós, humanos, temos grande habilidade e nos esforçamos muito para resistir às mudanças. Nós usamos leite no cereal, comemos hambúrgueres nos fins de semana e peru no Natal. É parte do nosso estilo de vida. Não queremos desistir disso e nos tornarmos “diferentes”, então fechamos os olhos para a verdade.

Falamos para eles sobre o leite de soja, o tôfu e os hambúrgueres vegetais e eles torcem o nariz e dizem “detesto” sem mesmo experimentar! Eles dizem que detestam esses alimentos saudáveis, livres de crueldade contra animais ao mesmo tempo que entopem seus estômagos com cadáveres de animais cheios de bactérias! Mas uma vez que vemos como os animais são mortos para o nosso deleite gastronômico, nosso conforto e nosso entretenimento, não podemos nunca mais negar que se não somos parte da solução, nós somos parte do problema.

Os “direitos animais” significam que animais têm o direito de fazer o que sua natureza dita sem interferência dos humanos. Nós não temos de sequer amar os animais para acreditar que eles deveriam ter os mesmos direitos que qualquer outro ser senciente tem. E os animais muitas vezes não são amáveis mesmo! É só ver os filmes mostrando os leões estraçalhando uma zebra, ou as várias orcas atacando ferozmente as focas e você verá que os animais podem também causar horror. Assim, aqueles que dizem “eu gosto de animais” na verdade ainda não captaram a idéia, porque animais não estão pedindo para serem queridos, eles querem apenas respeito. E merecem respeito porque são seres sensíveis à dor, porque eles estão no mundo com um objetivo (viver), e merecem nossa tutela e proteção.

Existiu uma época em que a escravidão fazia parte do estilo de vida de nossa civilização. As pessoas livres que lutaram pela libertação dos escravos não o fizeram por “amor” aos escravos, elas o fizeram porque reconheciam e respeitavam o direito que todas as pessoas têm de serem livres.

Nunca deixe alguém “se levantar e sair apressadamente como se nada tivesse acontecido”. Continue falando em defesa dos animais. Insista em dizer a verdade. A verdade vai, ao seu tempo certo, prevalecer e libertar os animais.

Autor: Michelle Rivera